quarta-feira, 16 de julho de 2008

Novas regras para o parto humanizado


Anvisa decidiu humanizar os partos na rede pública de saúde. A idéia é reduzir o número de cesarianas e aumentar o contato da mãe com o bebê



Grávida, a dona-de-casa Miriene Silva não agüenta mais esperar. “Agora que está chegando mais perto, meu coração está acelerado! Tenho ansiedade para ver o rosto dela”, conta a mãe, que diz ainda rezar para tudo dar certo. A filha Alice deve nascer de cesárea, o método mais usado nos hospitais de todo o país.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, decidiu tornar o parto mais humanizado: reuniu uma série de normas e vai cobrar que hospitais públicos, particulares e clínicas mudem a rotina da maternidade dentro de seis meses. O primeiro cuidado: ao nascer, o bebê deve ir direto para o colo da mãe. A dona-de-casa Vanessa da Silva passou por isso na época em que teve seu filho. “Quando ele nasceu e colocaram o bebê em cima de mim, eu chorei!”, lembra Vanessa.
Outra recomendação é amamentar logo depois do parto. Para bebês prematuros, o método canguru é indicado: o bebê deve passar dia e noite agarrado à mãe para ganhar peso. É o que acontece com Abel, filho da estudante Carlene Rodrigues, que nasceu de seis meses. “Estou dando muita proteção para o meu filho”, diz a mãe. Se não houver restrições médicas, as mulheres vão poder escolher até a posição do parto: de cócoras, na água ou deitada. A futura mãe também pode convidar quem quiser como acompanhante, para assistir ao nascimento da criança.
A Anvisa também quer mudanças nos leitos: sugere que os quartos sejam planejados para acomodar apenas duas mães. “No meio desses dois leitos deve ser colocada uma cortina ou alguma coisa para garantir a privacidade”, completa Regina Barcellos, gerente de serviço de saúde da Anvisa.

Parto normal ou cesariana?
No Hospital Maternidade de Nova Friburgo nascem em média 150 crianças por mês, 70% do total dos nascimentos do município. A maternidade é ainda referência na região e atende a pacientes de outras 11 cidades. Do total de partos, 65% são naturais e 35% por cesarianas. O Ministério da Saúde definiu que a quantidade de cesáreas não deve ultrapassar 27,5% do total dos nascimentos nos hospitais. Segundo o diretor geral da maternidade, Ostwald dos Santos Filho, enquanto o sistema de pagamentos dos partos por parte dos convênios médicos não for alterado, a quantidade de cesarianas na rede particular não irá diminuir. “Ganha-se hoje por produção. Os planos de saúde pagam R$ 275 ao médico por parto. Em uma evolução normal de parto natural, desde as primeiras contrações o médico espera 8h, 12h, 16h e até 18h para o momento do nascimento. Já em uma cesariana o médico marca a operação e define o momento do parto, não sendo necessária a espera do demorado processo natural”, explica o médico.
“Para resolver isso, tinha que acabar com esse negócio de que o médico que faz o pré-natal tem que ser o mesmo que faz o parto. A mulher tinha que ir para o hospital na hora que começasse a sentir as contrações e ter a criança com o médico que estiver lá. Tirar o médico dos seus outros afazeres para correr para um hospital realizar o parto de uma paciente acaba contribuindo para a prática da marcação das operações cesarianas. Na maternidade, por exemplo, temos médico, obstetra, pediatra e anestesista de plantão 24h. Quando alguém chega sentindo as contrações, vamos esperar todo o processo porque sempre haverá uma equipe pronta para atuar no parto na hora em que for necessário. Mas isso não é de interesse dos convênios, eles preferem marcar para o médico chegar ao local na hora de trabalhar e não pagar o plantão para a equipe ficar lá aguardando o paciente”, conta o diretor geral da maternidade.
Muitas mães também preferem a cesariana por ser um processo menos dolorido e mais rápido, o que evita o desgaste da família na expectativa de conhecer o mais novo membro. Mas também existem aquelas que preferem os benefícios do método natural. É o caso da mãe do recém-nascido Eduardo. Ele é o terceiro filho de Cleuza Justino, que não quis saber de anestesia na hora de escolher a forma como iria ter o filho. “Com o parto normal a gente se recupera mais rápido”, justifica ela.
O Brasil é um dos campeões mundiais em número de cesarianas. O estado do Rio de Janeiro não é exceção. Por isso o Ministério da Saúde está em campanha para incentivar o parto normal. O Hospital Maternidade oferece serviços públicos de orientação para gestantes. Através do curso de gestantes, que acontece duas vezes por semana, as futuras mamães recebem orientações sobre a hora do parto, como relaxar para tornar o parto mais fácil, os cuidados que deve ter com o bebê e até mesmo como fazer o planejamento familiar e evitar outra gravidez no futuro. A maternidade de Nova Friburgo recebeu o título de Hospital Amigo da Criança. Desde então, a primeira amamentação acontece logo na primeira hora do nascimento. Assim que o parto acontece, o bebê é higienizado e já vai para o colo da mãe mamar.
Parto natural dói?
Em três meses a reportagem de A VOZ DA SERRA acompanhou oito grupos, cada um com 12 gestantes. Setenta por cento delas queriam fazer o parto normal, apesar de ainda ser muito cultural o medo da dor na hora do parto. Sete, oito, nove meses de gravidez, e a estudante Thaís Andrade já se sente no limite. O bebê pesa quatro quilos e pode nascer a qualquer momento. “Não estou agüentando mais. Se for possível escolher o parto, ainda não sei pelo que irei optar. O pessoal diz que na cesárea não pode estar andando, não pode estar falando, porque senão a barriga incha e doem mais os pontos, então acho que vou preferir normal”, comenta ela.
Mas essa preferência é minoria entre as mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de cesarianas. Só perde para o Chile. Do total de partos realizados no país, 43% são cesáreas. A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que esse número chegue a 15%. Na maternidade pública de Nova Friburgo os médicos conversam com as gestantes, insistem na importância da amamentação e esclarecem a dúvida que quase toda grávida tem. “Eu queria saber se o parto normal dói muito”, perguntou uma gestante.
O médico Ostwald dos Santos Filho diz que a dor é relativa. “Muitas pessoas dizem que sentem uma dor muito forte, mas isso vai do preparo de cada um. Durante o pré-natal, o profissional pode fazer um preparo para que essa dor seja bem menor ou quase nenhuma”, respondeu ele. Para um parto menos doloroso, são utilizadas algumas técnicas de relaxamento para tranqüilizar as grávidas. E, quando a mãe sente que chegou a hora, ela vai caminhando até a sala de parto. Isso ajuda a reduzir a ansiedade e facilita o nascimento do bebê. “A paciente fica mais tranqüila, o trabalho de parto evolui gradativamente melhor, e ela chega ao parto mais calma, mais relaxada”, destacou Ostwald.
Priscila acabou de ter neném, saiu há poucos minutos da sala de parto onde teve o filho pelo processo natural. “Foi parto normal e correu tudo bem. Já estou amamentando meu filho e não estou sentindo mais nada”, contou a jovem. Entre as dúvidas das gestantes está o parto normal ou a cesariana. Apesar da decisão ser do médico, que leva em conta fatores de risco, as gestantes têm suas preferências. Lílian já passou pela experiência do parto normal. Na época a companheira de quarto dela preferiu fazer cesariana. “O parto por cesariana não tem posição, a alimentação também não pode a qualquer momento. Eu fiquei ajudando ela sempre que podia”, comentou a dona-de-casa Lílian Aguiar.

Lei do acompanhante deve entrar em vigor na maternidade até o fim do ano

A Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), da rede própria ou conveniada. Para isso, um curso para acompanhantes vai ser oferecido na maternidade. Só vai poder acompanhar todos os passos quem participar do curso, que dará informações de todo o processo. “Espero que a presença dos acompanhantes acabe com a série de reclamações de maus tratos comuns no serviço público de saúde. O problema é que geralmente o processo do parto natural é demorado e dolorido, mas muita gente pensa que por não ter ninguém da família junto, cuidando, é porque a equipe médica está negligenciando o caso e não dando o atendimento necessário”, diz o diretor geral da maternidade.
A maternidade já funciona com esquema de alojamento conjunto onde mãe e filho ficam no mesmo quarto, lado a lado. Um albergue também foi montado para receber as mães e os bebês que nascem prematuros. No local o método canguru é aplicado. Segundo o diretor geral, a questão da mulher poder escolher e convidar alguém para assistir ao parto é complicado. “A Anvisa faz as leis de cima para baixo, sem conhecer as realidades de hospitais de médio e pequeno porte, como o nosso. Aqui temos uma sala de operação com duas mesas, mas não temos espaço para levarmos um acompanhante. Fora que muitas vezes temos que parar o procedimento para dar assistência a quem está assistindo ao parto e passa mal. Da mesma forma que cria normas, a Anvisa também deveria se preocupar em equipar melhor os hospitais públicos”, destacou Ostwald.
A Anvisa também determinou a compra de equipamentos que são utilizados em alguns partos, como, por exemplo, a barra fixa que alivia o peso da barriga e a bola, que serve para massagear as costas. Ostwald dos Santos Filho informou que irá preparar um documento solicitando à Secretaria de Saúde as adaptações necessárias no espaço e os equipamentos que devem ser comprados para a adequação às novas normas da Anvisa.

Comandada pelo diretor geral Ostwald dos Santos Filho, a equipe da maternidade conta com a obstetra Vera Barcelos (esquerda) e com a pediatra Cláudia Duarte


O atual centro cirúrgico tem duas mesas separadas por um biombo. O espaço hoje não comporta a presença de um acompanhante para assistir ao parto

Fonte: http://www.avozdaserra.com.br/noticias.php?noticia=995

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