Prof. Carlos Alberto Mourão Júnior
I) Introdução:
- O reflexo pode ser definido como uma resposta motora ou secretória do nosso organismo, independente da nossa vontade, provocada por um determinado estímulo, como por exemplo:
• a retirada imediata da mão de uma panela muito quente;
• extensão da perna após a percussão e estiramento do tendão patelar;
• fechamento da pupila com o aumento da intensidade luminosa;
• aumento da secreção gástrica com a chegada do alimento no estômago.
- Desta maneira, o reflexo será uma reposta involuntária do organismo a um determinado estímulo (dor, estiramento, aumento da intensidade luminosa, etc.)
- Para nosso estudo, são de maior interesse os reflexos motores cuja base anatomo-funcional é o arco reflexo.
- O arco reflexo é formado por:
1- Via Aferente: receptores e fibras sensitivas do nervo.
2- Centro Reflexógeno (via de associação): substância cinzenta do sistema nervoso central.
3- Via Eferente: fibras motoras do nervo.
4- Órgão Efetor: músculo.
- Estímulo externo (percussão do tendão patelar) > estiramento das fibras musculares unidas ao tendão > estímulo dos fusos neuromusculares > transmissão do estímulo pelas fibras sensitivas do nervo até a medula (via aferente) > substância cinzenta da medula (centro reflexógeno) > fibras motoras do nervo (via eferente) > músculo (órgão efetor, quadríceps) > contração do músculo (quadríceps) > extensão da perna.
- O arco reflexo pode estar recebendo influência contínua de centros superiores através de estímulos facilitadores e principalmente inibitórios.
II) Materiais:
- Martelo de percussão
- Lanterna
- Estilete
III) FINALIDADE:
- Seu exame possibilita diagnosticar topograficamente alterações porventura existentes;
- Avaliar o grau de facilitação (excitação de fundo ou tônus) ou inibição que os centros superiores (encéfalo) estão exercendo sobre a medula.
IV) REFLEXOS EXTEROCEPTIVOS OU SUPERFICIAIS:
- Estímulos são realizados na pele ou mucosa externa;
Reflexo cutâneo-plantar:
- Paciente em decúbito dorsal com MMII estendidos e os pés relaxados;
- Com um estilete deve-se estimular superficialmente a região plantar, próximo a borda lateral e no sentido póstero-anterior;
- Resposta normal: flexão dos dedos
- Inversão da resposta:
- extensão do hálux e abertura dos outros dedos em leque (sinal de Babinski)
- lesão da via motora lateral (antiga via piramidal ou corticoespinhal).
V) REFLEXOS MIOTÁTICOS FÁSICOS OU MUSCULARES (ESTIRAMENTO):
- Percussão com o martelo de reflexos do tendão do músculo a ser examinado;
- Podem ser normais, abolidos, diminuídos (hiporreflexia), vivo ou exaltado (hiperreflexia);
- Arreflexia ou hiporreflexia é encontradas em lesões que interrompem o arco reflexo (poliomiolite, polineuropatia periférica, miopatia);
- Hiper-reflexia é encontrada nas lesões da via "piramidal" (AVC, neoplasia, doença desmielinizante, traumatismo);
- Assimetria nas respostas também pode refletir anormalidades neurológicas;
- Todavia, é possível obter resposta diminuída ou aumentada, mesmo na ausência de doença, por isso é de grande importância correlacionar os dados achados com a clínica;
- Entre os reflexos de estiramento destacam-se:
a) Patelar:
- Percute-se o tendão patelar com o martelo de reflexos, isso estira o músculo quadríceps e inicia um reflexo de estiramento dinâmico, que faz com que a perna se estenda subitamente para frente.
- Músculo estudado: quadríceps;
- Sede do estimulo: tendão da patela;
- Resposta: extensão da perna;
- Nervo: femoral;
- Centro Medular: L2-L4.
b) Bicipital:
- Deve-se comprimir, de leve, o tendão do bíceps na fossa antecubital e percutir o dedo com o martelo.
- Músculo estudado: bíceps;
- Sede do estimulo: tendão distal do bíceps;
- Resposta: flexão do antebraço e contração do bíceps;
- Nervo: musculocutâneo;
- Centro medular: C5, C6.
c) Tricipital:
- Segurando a mão do paciente, de modo a manter seu antebraço transversalmente adiante do tronco, percute-se o tendão do tríceps, 5 cm acima do cotovelo. Se não houver boa resposta, repetir 2 a 3 vezes dos dois lados do ponto percutido anteriormente.
- Músculo estudado: tríceps;
- Sede do estimulo: tendão distal do tríceps;
- Resposta: extensão do antebraço;
- Nervo: radial;
- Centro medula: C6, C7, C8.
d) Aquileu:
- Músculo estudado: tríceps sural;
- Sede do estimulo: tendão de Aquiles;
- Resposta: flexão do pé;
- Nervo: poplíteo medial;
- Centro medular: L2-S1.
e) Braquiorradial ou supinador:
- Músculo estimulador: supinadores;
- Sede do estímulo: apófise estilóide do rádio;
- Resposta: flexão do antebraço e, às vezes, ligeira supinação e flexão dos dedos;
- Nervo: radial;
- Centro medular: C5-C6.
► OBSERVAÇÃO: Propriedades dos reflexos: período de latência, período refratário e fadiga do reflexo.
VI) REFLEXO DE AUTOMATISMO OU DE DEFESA:
- Reação normal de retirada do membro a um estímulo nociceptivo;
- Paciente em decúbito dorsal com os MMII estendidos faz-se um "beliscão" na região dorsal do pé;
- Resposta normal: membro estimulado permanece na mesma posição ou apresenta discreta retirada do estímulo.
- Resposta anormal: tríplice flexão, representada pela flexão do pé sobre a perna, desta sobre a coxa e da coxa sobre a bacia (exagero da resposta normal). Encontrada na lesão "piramidal", especialmente de nível medular.
VII) REFLEXO PUPILAR:
- Em um ambiente de pouca luminosidade e com o paciente olhando para um ponto fixo distante, projeta-se um feixe de luz em posição ligeiramente lateral a um olho (a incidência frontal da luz pode produzir uma reação de convergência). A pupila deve se contrair rapidamente. O teste deve ser repetido no outro olho, devendo ser comparado com o primeiro.
- Mediado pelo III par craniano (oculomotor);
- Normalmente a pupila é circular, bem centrada e com diâmetro de 2 a 4 mm. Quando ela encontra-se com diâmetro aumentado chamamos de midríase, e o contrário chama-se miose.
- Reflexo fotomotor direto: contração da pupila na qual se fez o estímulo.
- Reflexo fotomotor consensual: contração da pupila oposta (tumor de pineal).
Discuta os seguintes conceitos: Inervação recíproca; reflexo miotático inverso; coordenação intermuscular; coordenação intramuscular e anisocoria.
* ESQUEMA PRÁTICO PARA O EXAME DE REFLEXOS:
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BIBLIOGRAFIA:
CAMPBELL, W.W. DeJong: o exame neurológico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2007. 563 p. (OBS: leitura obrigatória sobre semiologia neurológica).
BENSEÑOR, I.M.; ATTA, J.A.; MARTINS, M.A. Semiologia clínica. São Paulo: Sarvier. 2002. 657 p. (OBS: excelente texto de semiologia geral).
RODRIGUEZ-GARCIA, P.L.; RODRIGUEZ-PUPO, L.; RODRIGUEZ-GARCIA, D. [Clinical techniques for use in neurological physical examinations. II. Motor and reflex functions]. Rev Neurol, v.39, n.9, Nov 1-15, p.848-59. 2004. (OBS: Procure por este artigo no Pubmed, ele está escrito em espanhol e sua leitura é altamente recomendável). Procure em: www.pubmed.com
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