sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Dicas de Lingua portuguesa

Você já percebeu que "estamos sendo literalmente invadidos"?
Você sabe o que realmente significa o adjetivo LITERAL e o advérbio LITERALMENTE?

Então, vejamos.

Do latim littera vem a nossa palavra LETRA. A expressão adverbial ipsis litteris significa "com as mesmas letras".

Assim sendo, uma transcrição literal é feita letra por letra, palavra por palavra. O texto original não sofre alteração alguma. Uma tradução literal é aquela que é feita ao pé da letra.

O advérbio LITERALMENTE significa, portanto, "de um modo literal, com o sentido real das palavras".

Após essa explicação inicial, convido os leitores para analisar três frases retiradas da transmissão de um jogo de futebol: 1. "A Arena da Baixada virou literalmente um caldeirão";2. "O sonho do campeonato bateu literalmente na trave";
3.
"O atacante estava literalmente impedido".

O uso de "caldeirão" para certos estádios de futebol é bem antigo. Tornou-se até um clichê: hoje em dias são muitos os estádios que "viram caldeirões". O que não podemos esquecer é o uso figurado da palavra caldeirão: o estádio fica como se fosse um caldeirão. Nenhum estádio se transforma num caldeirão no sentido real da palavra. Caldeirão, nesse caso, é metafórico.

Assim sendo, um estádio virar "literalmente um caldeirão" é um absurdo. O autor da frase provavelmente quis ser enfático: "A Arena da Baixada virou um grande caldeirão".

Um clichê semelhante é uso do adjetivo VERDADEIRO com idéia intensificadora: "A Bomboneira virou um verdadeiro caldeirão"; "O saguão do aeroporto se transformou numa verdadeira praça de guerra"; "O jogo foi uma verdadeira pelada"; "As ruas viraram verdadeiros rios"; "Era uma verdadeira via crucis"...

Todo clichê cansa e perde a graça.

No exemplo 2, o uso do advérbio LITERALMENTE, embora desnecessário, parece aceitável: a bola REALMENTE bateu na trave. O autor usou a expressão "bater na trave" no sentido real, e não no sentido figurado (bater na trave = quase fazer o gol = algo não se concretizar por pouco): "O sonho da convocação para a seleção brasileira bateu na trave" (= não se realizou por pouco).

No exemplo 3, encontramos o mais inútil dos usos do advérbio LITERALMENTE: "O atacante estava literalmente (= COMPLETAMENTE) impedido". Em transmissões por rádio o uso de "completamente ou totalmente impedido" ainda se justificaria, pois o ouvinte não está vendo o jogo. Em transmissões pela televisão, entretanto, é desnecessário. É bom lembrar que ninguém fica "parcialmente impedido". Bastaria dizer que "o atacante estava impedido" ou, em caso de ênfase, "claramente impedido" (= indiscutivelmente impedido).

Sabemos que toda língua viva se transforma, evolui. Cria novas palavras. Palavras antigas criam novos significados. Não se trata, portanto, de uma discussão simplista de certo ou errado.

O problema maior é o clichê, é a repetição excessiva, é a falta de criatividade. Isso caracteriza pobreza vocabular.


Teste de ortografia
Que opção completa corretamente as lacunas da frase "Não compareceu à _____________ porque foi tratar de um dente _____________"?

(a)
acariação - cariado;
(b) acariação - careado;
(c) acareação - careado;
(d) acareação - cariado.

Resposta do teste: Letra (d). Acareação é o "ato de acarear"(=ficar cara a cara). E dente com cárie está cariado.



É meio-dia e MEIO? Ou é meio-dia e MEIA?
E a aluna está MEIO ou MEIA nervosa?

1ª) MEIO ou MEIA?
a) Como numeral (=metade), deve concordar:
"Tomou MEIO litro de vodca."
"Tomou MEIA garrafa de vodca."
"Tomou uma garrafa e MEIA."
"Leu um capítulo e MEIO."
"São duas e MEIA da tarde."
Assim sendo, o correto é "É meio-dia e MEIA" (meia hora).
b) Como advérbio (=mais ou menos), é invariável:
"A diretoria está MEIO insatisfeita."
"Os clientes andam MEIO aborrecidos."
O correto, portato, é "A aluna ficou MEIO nervosa" (um pouco, mais ou menos).

2ª) MESMO ou MESMA?
a) MESMO (=próprio) é pronome e deve concordar.
"Andréia prefere salgados, mas os doces é ela MESMA quem faz."
"Nós MESMOS resolvemos o caso."
" As meninas feriram a si MESMAS."
b) MESMO (=até, inclusive) é invariável:
"MESMO a diretoria não resolveu o problema."
"MESMO os professores erraram aquela questão."

3ª) O MILHAR ou A MILHAR?
MILHAR e MILHÃO são substantivos masculinos.
"NOS MILHARES de linhas que li, não encontrei nada que me interessasse."
"UM MILHÃO de pessoas e DOIS BILHÕES de dúvidas..."
"OS DOIS MILHÕES de mulheres...
Observação: MIL é numeral, por isso, o artigo ou numeral que o acompanhe concordará com o substantivo:
"AS MIL e UMA noites..."
"DOIS MIL candidatos compareceram à prova."
"DUAS MIL pessoas estavam na festa."

4ª) MONSTRO ou MONSTRA?
Substantivo, no papel de adjetivo, é INVARIÁVEL.
"Foram realizados diversos comícios MONSTRO."
"O juiz recebeu uma vaia MONSTRO."
Observação: nome de coisa (=substantivo), usado como cor (=adjetivo), é INVARIÁVEL:
"Comprou uma blusa VINHO."
"Comprou duas camisas LARANJA."

5ª) OBRIGADO ou OBRIGADA?
As mulheres devem dizer OBRIGADA.
"Muito OBRIGADA, disse ela."

6ª) QUALQUER ou QUAISQUER?
O plural de QUALQUER é um caso especial. É uma palavra composta: QUAL (plural = QUAIS) + QUER (verbo = sem plural). Portanto, o plural de QUALQUER é QUAISQUER: "Não pode ficar aqui, QUAISQUER que sejam os pretextos."


Teste de ortografia
Que opção completa corretamente as lacunas da frase "Após a _____________ teve um _____________"?
(a) discursão - chilique;
(b) discussão - chilique;
(c) discução - chelique;
(d) discurssão - chelique.

Resposta do teste: Letra (b). Chilique é com "i" e o ato de discutir é discussão. "Discursão" só se for um "grande discurso"...


Concordância nominal está em alta.
Vamos responder a mais algumas perguntas de nossos leitores.
Vamos lá.

CONFORME ou CONFORMES?

1. Como conjunção conformativa (segundo, como), é invariável:
"Fez tudo CONFORME os procedimentos estabelecidos."
"CONFORME as leis vigentes, esta é a única solução."

2. Como adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se refere:
"Durante a auditoria, só encontraram produtos CONFORMES."
"Ficaram CONFORMES (= CONFORMADOS) com a atual situação."


É PROIBIDO ou É PROIBIDA?

Só concorda com o substantivo se estiver determinado:
"É PROIBIDA a entrada de estranhos."
"É PROIBIDO entrada de estranhos. "
"A bebida alcoólica não é PERMITIDA."
"Bebida alcoólica não é PERMITIDO."
"Demissão em massa não é BOM para o governo."
"Sua demissão não foi BOA para o governo."


HAJA VISTA ou HAJA VISTO?

1. É invariável.
"Ele foi demitido HAJA VISTA o problema surgido."
"Ele foi dispensado HAJA VISTA os pontos atingidos."
"Ele foi reprovado HAJA VISTA as notas tiradas."

JUNTO ou JUNTOS?

1. É um adjetivo e deve concordar com o substantivo a que se refere.
"Os irmãos moram JUNTOS."
"As duas viajaram JUNTAS."
"Em campo, Romário e Ronaldinho JUNTOS."

2. JUNTO A / JUNTO DE (=perto de) - São sinônimos e invariáveis.
"Os dois chutes passaram JUNTO À trave."
"Os reservas estão JUNTO DA comissão técnica."
"Os hotéis ficam JUNTO AO viaduto."
"As casas estão JUNTO DA farmácia."

MENOS ou MENAS?

"Menas" não existe. Use sempre MENOS.
"Vieram MENOS pessoas que o esperado."
"Isso é de MENOS importância."

Teste de ortografia
Que opção completa corretamente as lacunas da frase "Para derrotar seu ______________, utilizou meios ______________"?
(a) arqui-inimigo - anti-éticos;
(b) arqui-inimigo - antiéticos;
(c) arquiinimigo - anti-éticos;
(d) arquiinimigo - antiéticos.

Resposta do teste: Letra (d). Com os prefixos ARQUI e ANTI, só usamos hífen se a palavra seguinte começar por "h", "r" ou "s" (anti-higiênico, arqui-rival, anti-republicano, anti-semita...). Como "inimigo" e "ético" começam por vogal, devemos escrever sem hífen, "tudo junto" como se diz popularmente.

Você sabia que há casos em que o uso do acento indicativo da crase é facultativo?

Vejamos também algumas pequenas dúvidas de concordância nominal.

CRASE FACULTATIVA

1. Antes de pronome possessivo adjetivo feminino singular (minha, tua, sua, nossa, vossa). O uso do artigo é facultativo.
Sua tia veio aqui. = A sua tia veio aqui. ð Refiro-me a/à sua tia.
O mérito pertence a/à minha filha e não à sua.
Observação: vindo o possessivo no plural, só há crase em às (= preposição a + artigo as).
Refiro-me a suas idéias. Refiro-me às suas idéias. Conheço as suas idéias.
Fez alusão a minhas falhas. Fez alusão às minhas falhas.

2.
Antes de nome de mulher (o uso do artigo é facultativo).
Maria ganhou um carro. = A Maria ganhou um carro. ð Dei o carro a/à Maria.
Sílvia recebeu o livro. = A Sílvia recebeu o livro. ð Mandei o livro a/à Sílvia.
Observação: antes de nomes de pessoas célebres não há artigo; logo, não há crase.
Joana d'Arc viveu ali. ð Ele fez referência a Joana d'Arc.
Cleópatra ficou célebre. ð Fizeram alusão a Cleópatra.
3. Depois da preposição até (o uso da preposição a é facultativo). No Brasil, é preferível não usarmos o acento da crase: Fui até a/à praia. Ficamos ali até as/às 10 horas.


Concordância nominal

1ª) "Nadou cem metros LIVRE ou LIVRES e correu cem metros RASO ou RASOS?"
Na natação, LIVRE é o estilo, é NADO LIVRE; no atletismo, RASOS são os cem metros: "São cem metros LIVRE" e "São cem metros RASOS."
"São cem metros PEITO ou BORBOLETA."
"Vamos conferir os recordes dos cem metros nado BORBOLETA FEMININO."
"Cleber Machado narra os cem metros PEITO FEMININO."

2ª) VOSSA EXCELÊNCIA ficou SATISFEITO ou SATISFEITA?
VOSSA EXCELÊNCIA é um pronome de tratamento do gênero feminino, seja homem ou mulher. Seguindo as regras gramaticais, diríamos: "VOSSA EXCELÊNCIA ficou SATISFEITA".
Entretanto, quando se trata de homem, concordamos com a idéia subentendida: "VOSSA EXCELÊNCIA ficou SATISFEITO". É que chamamos Silepse de Gênero. É a forma mais usual e totalmente aceitável.

3ª) ZERO GRAU ou ZERO GRAUS?
O numeral ZERO deixa a palavra seguinte no SINGULAR.
"Estava ZERO GRAU."
"É ZERO HORA."


Teste de ortografia

Que opção completa corretamente a frase "Na sua casa, ele tem um _______ e um casal de _______________"?

(a) ganço - piriquitos;
(b) ganço - periquitos;
(c) ganso - periquitos;
(d) ganso - piriquitos.

Resposta do teste: Letra (c). Todo ganso é com "s", e "piriquito", com "ï", não voa. Todo periquito é com "e".

Veremos os dez casos em que a crase é impossível. É do tipo "não perca tempo".

CRASE PROIBIDA

1. Antes de masculino.
Gostava de andar a cavalo.
Viajou a serviço.
Vendeu tudo a prazo.
Comprou um fogão a gás.

2. Antes de verbo.
Começou a redigir.
Estamos dispostos a colaborar.
A lei entra em vigor a partir de hoje.

3. A (singular) + palavra no plural.
Referia-se a cidades do interior.
Não me refiro a mulheres, e sim a crianças.
Presto favores a pessoas dignas.
O capital da empresa pertence a entidades governamentais.

4. Antes de artigo indefinido (=uma).
O infrator ficará sujeito a uma multa a ser definida.
Ofereceu o prêmio a uma funcionária dedicada.

5. Antes de nome feminino tomado em sentido genérico ou indeterminado.
O infrator ficará sujeito a multa.
Ela é candidata a rainha do carnaval.

6. Antes de pronome indefinido ou palavra por ele modificada.
Entregou o livro a alguém .
Isto é útil a qualquer pessoa.
Não irei a festa alguma.

7. Antes de pronome demonstrativo (=esta, essa, isto, isso).
Estamos atentos a essa tendência.
Ofereceu o prêmio a esta aluna.

8. Antes de pronome pessoal.
Dedicou a canção a mim.
Entregou a ela tudo que pediu.
Elas feriram a si mesmas.

9. Antes de pronomes de tratamento.
Dei a carta a Sua Excelência.
Ele disse a Vossa Senhoria que não viria.
Contei tudo a D. Francisca.
Exceções: Senhora, Senhorita, Doutora e Madame.
Transmiti o recado à Senhora Eva.
Entreguei o livro à Dra. Márcia.

10. Antes de quem e cujo(s), cuja(s) .
Isto convém a quem trai.
É a autora a cuja peça me referi.

11. Entre palavras repetidas.
Ficaram cara a cara.
O líquido cai gota a gota.
Venceu de ponta a ponta.

12. Antes de terra antônimo de bordo.
Mandou o marinheiro a terra.
Depois de tantos dias no mar, chegamos a terra.
Observação: qualquer outra terra (inclusive o planeta Terra) admite crase.
Depois de tantos dias no mar, chegamos à terra procurada.
Vou à terra dos meus avós.
O astronauta voltou à Terra.

13. Antes de casa = lar, sua própria casa.
Vou a casa.
Ele ainda não retornou a casa desde aquele dia.
Observação: qualquer outra casa admite crase.
Vou à casa dos meus pais.
Ele ainda não retornou à casa dele.


Teste de ortografia

Que opção completa corretamente a frase "Ele foi ______________ perante o _______________"?

(a) incriminado - meritíssimo;
(b) incriminado - meretíssimo;
(c) encriminado - meretíssimo;
(d) encriminado - meritíssimo.

Resposta do teste: Letra (a). Atribuir um crime a alguém é INCRIMINAR, com "i". E o tratamento dado aos juízes é MERITÍSSIMO, porque vem de MÉRITO, que também se escreve com "i". Não devemos jamais é brincar com a palavra "meritríssimo". Pode dar cadeia...

Para você que gosta da língua portuguesa ou precisa conhecer melhor os segredos do nosso idioma, estarei aqui em todas as quartas-feiras. Serão principalmente dicas que possam ajudá-lo a enfrentar nossos concursos e aprimorar sua comunicação oral e escrita.

Além da análise de aspectos lingüísticos, discutiremos também alguns temas polêmicos como o uso do internetês, do gerundismo, dos modismos, dos neologismos e estrangeirismos...

Vamos às dicas de hoje.


Vamos concordar
1. "ACONTECEU ou ACONTECERAM dois acidentes nesta esquina?"

Segundo nossas regras gramaticais, o verbo deve concordar o sujeito. No caso acima, o sujeito do verbo ACONTECER é "dois acidentes", que está no plural. Por isso, devemos dizer que "aconteceram dois acidentes".

Quando alguém diz que "aconteceu dois acidentes", na verdade aconteceram três acidentes...

2. "HOUVE ou HOUVERAM dois acidentes?"

O verbo HAVER, quando usado no sentido de "existir", é impessoal. Isso significa que não tem sujeito e que só pode ser usado no singular. O certo é "houve dois acidentes".

É interessante notar que ninguém diria "hão muitas pessoas aqui". Todos falam corretamente: "Há muitas pessoas aqui". O verbo HAVER (=existir) deve ser usado sempre no singular em qualquer tempo verbal: "Havia muitas pessoas na reunião"; "Haverá muitos candidatos no próximo concurso"...

Certa vez, li num bom jornal: "Houveram vários crimes na Baixada". Sem dúvida, um dos crimes foi contra a língua portuguesa!!! O certo é "Houve vários crimes na Baixada".


Crase sem crise
1. Ele se referiu a ou à carta?
2. Ele escreveu a ou à carta?

O certo é: Ele se referiu à carta e escreveu a carta.

Para comprovarmos a crase, o melhor "macete" é substituir o substantivo feminino por um masculino. Comprovamos a crase se o A se transformar em AO:
"Ele se referiu à carta." (=ao documento)
"Ele entregou o documento às professoras." (=aos professores)
"Sua camisa é igual à do meu pai." (=seu casaco é igual ao do meu pai)
"Ele fez referência às que saíram." (=aos que saíram)

Observe a diferença:
"A secretária escreveu a carta." (=o documento)
"Ele não encontrou as professoras." (=os professores)
"A testemunha acusou a da direita." (=o da direita)
"Não reconheci as que saíram." (=os que saíram)
"Ele se referiu a esta carta." (=a este documento)
"Tráfego proibido a motocicletas." (=a caminhões)

Teste de ortografia
Que opção completa corretamente a frase "Não sei ___________ a ___________ ainda não foi feita"?

(a) porque – análise;
(b) por que – análise;
(c) porque – análize;
(d) por que – análize.

Resposta do teste: Letra (b). Sempre que podemos subtender "por que motivo" ou "por qual razão", devemos escrever POR QUE (=separado): "Não sei por que motivo a análise ainda não foi feita". A palavra análise deve ser escrita sempre com "s". Não existe "análize" com "z".

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